quarta-feira, 22 de junho de 2011

Porquê fazer voluntariado?

*O que é e porquê ser voluntário?
“Voluntário é o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete… no seu tempo livre, a realizar acções de voluntariado no âmbito de uma organização promotora” (Lei nº 71/98).

Acredito que todos podemos fazer a diferença. Que com pequenos gestos podemos realmente “mudar o mundo” e que, se todos acharmos que pequenas acções não fazem a diferença, então sim, o mundo nunca vai mudar, nós nunca vamos mudar e o longo caminho que há para percorrer entre as desigualdades extremas até uma igualdade mais humana, e tão urgente, nunca será percorrido. É efectivamente mais simples permanecer sempre igual. Talvez porque não há uma noção clara e comum do quão melhor podemos ser e fazer.

Ser voluntário é darmos o nosso tão apetecível e interminável tempo a ver televisão e fazer zapping, a falar ao telefone, a dormir mais um bocadinho, a descansar mais um bocadinho de cansaço nenhum, a comprar roupas lindas e a comer sobremesas deliciosas que nos fazem esquecer as roupas e a comida que outros não têm, as necessidades alheias e os nossos próprios problemas. E como é fácil viver “no escuro”! E não saber o que há “mais além”. E como é fácil não saber que é uma obrigação tão nossa mudar o que está errado – na nossa vida e em tantas outras vidas, que pouco ou nada nos dizem. Ser voluntário é ser incansável dentro do próprio cansaço – é ficar cansado! Mas continuar sempre a andar em direcção ao objectivo ou projecto pelo qual se luta.

Ser voluntário não é não ter outros interesses (mais egoístas!). Ser voluntário é ser sonhador o suficiente para, cooperando com uma organização como a Helpo, tornar ideias em realidades (e, em troca, ver essa própria realidade a concretizar-se). É ter uma grande força de vontade e não ter um salário como fim último, mas recompensas emocionais, intelectuais e de expansão de horizontes, ao final de cada dia, ao final do mês e em tempos que ainda estão por vir. Recompensas que pouca gente entende, numa sociedade onde a imagem, o “estatuto”, a casa e o carro e a família e o ipod e o computador e, e, e (…) são tudo quanto importa (para mostrar o quão felizes somos nesta “vida tão perfeita” onde nascemos ou onde viemos parar). Ser voluntário é não se resignar com o que não está certo e é, acima de tudo, ajudar. Mas não da “forma… desinteressada” que a Lei nº 71/98, artigo nº 3 refere. Aqui não há senão um interesse profundo em conhecer outras realidades que não a nossa, outras culturas, outros costumes e marcar vidas cheias de carências afectivas e económicas.

E é definitivamente um interesse egoísta a imensa vontade que o voluntário tem em ser mais e melhor. Melhor do que quando não fazia coisa alguma. Melhor do que seria se não tentasse mudar-se a si e ao mundo que o rodeia. As motivações não se cingem “aos outros” mas passam também por si próprio.

Há uma infinidade de motivações para se fazer voluntariado. A maioria dessas razões não são palpáveis, não se podem enumerar porque passam pela experiência indescritível de se ser útil, de marcar a diferença, de aprender algo novo a cada minuto, de partilhar, de pôr egoísmos e egocentrismos de parte, de colocar “outros à nossa frente” nas listas intermináveis das nossas prioridades pessoais, num mundo onde o que é emocional se mistura com o profissional, é ser mais humano. Fazer voluntariado significa crescer em direcções distintas daquilo que a escola ou a universidade, ou até a família, nos podem ensinar. Crescer por dentro, de dentro para fora e de fora para dentro. É tornar o nosso mundo interior maior do que os nossos próprios limites. Fazer voluntariado é fazer bem o bem, mas sem o sentido estrito de caridade que a sociedade geralmente lhe dá. Porque é TÃO mais do que isso.
Fazer voluntariado porque faz bem, porque nos faz bem, porque é mudar aquilo que não gostamos de ver no mundo, que não podemos ver no mundo, porque é trabalhar contra injustiças e lutar por melhores condições de vida para quem não as tem. É uma experiência que enriquece qualquer currículo, qualquer percepção que se possa ter do nosso próprio país ou de outros, qualquer projecto de vida, qualquer projecto de carreira, qualquer alma, qualquer pessoa!
Lutar por um mundo melhor cabe-nos a todos nós. Voluntariado não é A obrigação. Voluntariado é apenas uma forma de contribuir para essa transformação, que nos cabe a todos nós, ficar mais perto de acontecer – a desconstrução de preconceitos raciais, étnicos, sociais, de género e a cooperação para um mundo mais justo, onde a erradicação da pobreza extrema possa ser uma realidade. Porquê fazer voluntariado? Porque sim!
Joana F.



O que é e porquê?
Nunca tinha sido voluntária antes, ainda que isto não signifique que não tenha estado implicada em actividades com a comunidade. E a verdade é que considero que ser voluntário na HELPO é um regime diferente daqueles que conheci anteriormente.
Os regimes de voluntariado dependem da organização e do próprio indivíduo. O que me parece atractivo no regime de voluntariado da HELPO é dar continuidade a um projecto que já existe, o que de certa forma vem garantir a sustentabilidade e progresso dos projectos que se desenvolvem.
Por outro lado, a HELPO exige que os voluntários candidatos façam um curso de iniciação, onde são abordados diversos temas sobre o Voluntariado Internacional. Posteriormente, os voluntários são seleccionados e recebem uma formação antes de ir para o terreno, para que estejam a parte das actividades da HELPO e que tomem conhecimento dos processos administrativos.
A organização também pede ao voluntário que formule um projecto individual, sob supervisão de um dos colaboradores, e que deve ser levado a cabo, antes e durante o período em que nos encontramos no terreno.


Faço referência a todos estes pontos, porque o voluntariado só faz sentido para mim num regime similar, porque nos responsabiliza e faz de nós participantes activos da mudança e de um projecto, com objectivos concretos que tem impacto no terreno. Acho que podemos dizer que este regime é de voluntário/cooperante e é esse o principal motivo pelo qual quero ser voluntária na HELPO.
Sara S.


“Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho”. É esta a habitual lista de coisas para fazer antes de morrer. Mas um dia paramos um segundo para pensar e surge então a derradeira questão: Quem sou eu e para onde vou?
Pensei no passado! Não me arrependo de nada do que tenha feito e considero que fiz muito. Atingi a quase totalidade dos meus objectivos e ainda assim uma espécie de vazio crescia dentro de mim, consumia-me. Foi por esta altura que me apercebi que A Lista se havia tornado demasiado curta para mim, precisava de algo mais completo; e mais do que uma lista, precisava de um rumo, um objectivo, precisava de me encontrar!
Mas por esta altura a lista já não tinha só os três tópicos iniciais. Havia crescido consideravelmente. Decidi que chegava de dizer ‘um dia faço…’. Chegava de tentar construir um mundo só meu, decidi que queria crescer e tornar-me uma pessoa melhor, decidi que queria fazer algo pelo mundo que é de todos e torná-lo também a ele um mundo melhor, onde talvez existisse um lugar para mim.
E são estas as razões que me levam a querer fazer trabalho voluntário em países subdesenvolvidos. Razões egoístas, poder-se-á dizer, mas se com esse egoísmo consigo fazer algo de útil, algo de bom e algo de necessário, qual será o mal disso? Claro que nunca embarcaria numa ventura destas se não gostasse de ajudar quem precisa. É óbvio que essa é uma condição fundamental necessária à partida. Mas estaria a mentir se declarasse essa como a minha principal motivação.
Depois existe a aventura. Ir para um sítio novo, com pessoas diferentes e uma outra mentalidade e cultura, nunca deixa de ser uma aventura. Mentalizei-me para passar muitas privações, a todos os níveis. Este tipo de missões exigirá muito a um voluntário. Sobretudo a nível psicológico e a nível motivacional. É claro que me assusto com algumas coisas: tenho medo sim. Medo de ceder, medo por não estar ao alcance de um abraço de um amigo, medo da saudade, medo da exclusão e tantos, tantos outros medos. Tenho medo sim, e depois? Isso não é obrigatoriamente mau! O medo é muito mais do que isso, é todo um conjunto de sensações que merecem de facto ser vividas e entendidas. E é por sentir esse medo que eu sei que vou ser capaz de superar as dificuldades, de cumprir a minha missão.
E ao longo do tempo que passar no terreno eu só espero poder fazer o máximo pelas pessoas, e pelo seu mundo. Quero fazer o que tenho de fazer, e fazê-lo bem feito. Quero ajudar, ensinar e aprender. Aprender o máximo que poder a todos os níveis possíveis. Quero ser, estar, sentir e viver. Quero fazer amigos e sentir que pela primeira vez fiz algo de realmente útil, de realmente importante que realmente valeu a pena. Eu bem sei que uma pessoa não pode mudar o mundo, mas essa pessoa pode realmente fazer a diferença, por mais pequena que ela seja. O que é a evolução se não um acumular de pequenas diferenças? É a pensar assim que eu espero que o mundo caminhe num sentido melhor. Porque se é verdade que não podemos ter tudo aquilo que queremos, não é menos verdade que isso não nos impede de lutar por algumas dessas coisas.
Não sei se agora estou mais próximo de saber quem sou, mas sei de certeza em que direcção quero seguir, e isso tenho de agradecer à helpo!
Nuno M.


*Textos escritos antes da partida para o terreno.

Motivações, receios e expectativas


*É difícil descrever o que espero desta experiência. É difícil saber o que espero – de Moçambique, do trabalho que me vai estar destinado e das actividades que vou desenvolver no terreno. Não consigo imaginar o que é “tocar na pobreza”, quais as suas cores, feitios e cheiros – embora já tenha estado envolvida em alguns projectos de voluntariado nacional, com crianças e sem-abrigo. Mas, agora é uma pobreza mais distante, mais desconhecida, mais avassaladora. É uma pobreza dominante, com a qual não só vou ser confrontada diariamente, mas na qual vou “viver” diariamente durante seis meses. Não vou ver mais senão pobreza até à linha do horizonte e isso é assustador. Tenho mil medos que crescem à medida que o tempo passa e o dia da partida para aquele continente (e para aquela pobreza) longínquo/a se aproxima. Como vão ser as saudades? E a malária, vou contraí-la? E o calor que não dá descanso? E as ausências? E os horários? E o trabalho? E as crianças? E a amabilidade do povo moçambicano? E a segurança? E as ausências? E as saudades? E as saudades, as ausências, a segurança… São tantas as questões às quais só os meus olhos e pele poderão dar resposta, no espaço de aproximadamente um mês!
Motivações? O dobro dos medos! Os desafios e recompensas desta aventura! A resistência às saudades, às doenças, às ausências, a habituação aos costumes diferentes, ao calor, à pobreza. ÁFRICA! As cores, os cheiros, os feitios! Mais do que tudo… o trabalho, a cooperação com as comunidades rurais, as actividades nas escolinhas! As CRIANÇAS! O Voluntariado.
As expectativas: um misto de um enorme pessimismo e de optimismo incomensurável! Espero uma experiência única, num país demasiado diferente de Portugal, para o bem e para o mal!
Joana F.


*Os meus receios estão relacionados com a vida no terreno. Apesar de já ter estado em África e de ter gostado e ter-me sentido bem. Acho que viver no terreno, é uma realidade completamente diferente. O meu maior receio é não aguentar, sentir que as vivências e a realidade onde intervimos são demasiado duras/fortes e de não ter capacidade para aguentar.
Mas ao mesmo tempo, estou com as expectativas altas, porque tenho consciência que vai ser uma experiência única, principalmente porque vamos estar em contacto com comunidades rurais no interior de Moçambique, e vamos trabalhar com elas. Porque vamos ver 'o novo mundo'. Porque dou valor ao projecto desenvolvido pela HELPO. E sobretudo, porque finalmente vou cumprir um sonho, viver em África, intervir numa comunidade e contribuir para o seu desenvolvimento!
Sara S.


* Textos escritos antes da partida para o terreno.