terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Moçambique, um mês mais tarde

Para mim, era a Terra de todos os sonhos. Para o resto do mundo, um continente distante, com cores e sabores exóticos.

Aterrar em África é sair, pela primeira vez, de uma imensa zona de conforto que se prolonga por dois continentes nórdicos, onde existem lojas e neve!

Para mim, aquelas paisagens eram um mundo novo, feito de velhice. E infâncias. Um mundo tão velho, que eu só conhecia através de imagens, daquelas que escondem odores e histórias, que ficam sempre por contar.

Aquele exotismo preenche todos os sentidos. Cria, até, o sexto! – um eventual sentido sobrenatural ou místico, feito de Deus, costumes étnicos e feitiços. Fé!

É um continente feito de tempo – aquele tempo que não temos aqui – para as pequenas coisas e para as grande pessoas que moldam a nossa vida.
Tempo que parece não ter fim, nos países das vidas mais passageiras.

No meio de algum desencanto com tantas ausências: responsabilização, recursos, medicação, direitos humanos, voltei a apaixonar-me pelo continente dos meus sonhos, por tudo o que me ensinou. Pelos olhares sinceros, pela falta de tudo o que é mais supérfluo, pelo carinho da Maria, do Chico, do Damião, do Saífe, pela esperança, pela falta de problemas existenciais, pelo sol, por respirar, pela água, pelo tecto, pela liberdade, por valorizar. Por ter conhecido exemplares perfeitos desse Deus – que por vezes desconheço e por vezes reconheço existir, a paz, o abraço da Irmã Elisa.

Por ter aprendido que não é na falta de problemas que podemos “ser felizes para sempre”, mas no meio deles e da complicação em que a vida se faz diariamente, enquanto houver ar para inspirar, planos para cumprir e gente para abraçar e a quem sorrir.

Voltaria! Repetiria a experiência! Voltarei um dia, sem dúvida! Até lá, trarei sempre comigo a Helpo, em memórias abstractas ou emocionais e pensamentos muito concretos! Até lá, estarei sempre por perto.


Joana Ferrari

P.S. Obrigada "aos Carlos", por terem tornado cada dia destes seis meses mais desafiante, mas sempre "com sabor a casa".