segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pastorelas

[Pastorelas – centro católico de irmãs italianas, apoiado pela Helpo. Lá, é feito um trabalho maravilhoso e muito comovente, junto das mulheres/famílias mais carenciadas. É neste centro que tenho vivido os momentos mais emocionantes desta “viagem” inesquecível, ou mesmo da soma de todos os meus dias.]

Uma a uma, todas as terças e quartas-feiras. Uma mulher de cada vez entra na sala, desprovida de tudo, necessitada de tudo. E uma a uma, a pobreza não parece tão vasta.
          
Nesta quarta-feira dia 23, em que todos os rostos e capulanas coloridas se juntam no mesmo chão, à mesma hora, posso ver a pobreza em que Pemba amanhece todos os dias, sempre iguais.
           
À minha frente, dezenas de histórias de vidas desfeitas. À minha frente, a face da miséria e da simplicidade, a falta de futuro, a dureza do presente e do passado. À minha frente, mulheres que cantam e gritam cantigas e gritos alegres, riem e dançam, enquanto esperam para assistir a uma palestra da Direcção Provincial da Mulher e Acção Social, sobre os direitos da mulher – os direitos que elas não sentem, sobre os direitos da criança – os direitos que as suas crianças não têm.
           
Neste chão colorido, vejo a paisagem humana mais emocionante e mais bonita que algum dia se fez aos meus olhos.
           
A palestra começa e as mulheres intervêm, em macua, e contam as histórias de como chegaram ao Centro das Irmãs Pastorelas. A maior parte destas mulheres sofre inúmeros lutos, inúmeras perdas, abandonos por parte dos maridos... quase invariavelmente são doentes. Uma mulher fala – tem sida – e agradece o que o Centro e, em especial, a Irmã Elisa tem feito por ela, pois não queria aceitar que estava doente e, agora, “o que importa é que ainda tenho vida”.
            
Falta tanto de tudo, em Pemba. Ainda bem que existe a Helpo, as Pastorelas, a esperança que sempre voa entre esta gente, por entre estes ares e estas terras. Porque a vida é tão frágil! – e não há muito mais que se possa dizer, para fazer transparecer estas realidades, sem que os olhos a quem mostro estas imagens estejam também aqui presentes, para verem, nesta hora, o que o meu olhar abarca, neste momento.



Joana Ferrari