Chamo-me Joana, sou do Porto, e sou a primeira voluntária da Helpo em Pemba. Cheguei a Moçambique no dia 13 de Junho - mais precisamente à cidade de Nampula, para conhecer os projectos que a Helpo também aí desenvolve. No fim da primeira semana vim para a cidade que me vai acolher até Dezembro.
Os projectos da Helpo são na área da educação, actuando em comunidades rurais - escolas e escolinhas (creches); infantários (orfanatos) - como aquele que tive oportunidade de conhecer em Nampula; numa ordem religiosa que acolhe crianças durante o dia - as Pastorelas; entre outras actividades, como é o caso da criação de uma ludoteca infantil na Biblioteca Provincial de Cabo Delgado, na qual vou estar envolvida.
Vou ficar por aqui seis meses e vou publicar, periodicamente, textos sobre o que se faz, o que se vive, o que se vê e o que se sente, deste lado do mundo, através de uma experiência de voluntariado. Será com certeza um longo caminho, mas também dias e lições de vida que hão de ficar registados no meu percurso profissional e, mais do que tudo, no meu percurso emocional.
TEXTO I
Chegar a África significa encher a alma de imagens maravilhosas, esvaziar a cabeça de expectativas inalcançáveis, cair numa realidade que, no meu imaginário, correspondia apenas aos cenários dos filmes mais inquietantes e comoventes e, de certa forma, “culpabilizantes”, que sempre me atraíram até às salas de cinema e me seduziram como “objectivo de vida”, para a vida.
África é aquele continente “láaaa” longe (como explicaria um moçambicano em modo de “conta-quilómetros”), onde há abundância de doenças e sujidade, e doenças e sujidade em crianças e crianças a viver em casas feitas de palha que sobejam por toda a parte, em partes do mundo que são permanentemente esquecidas por partes da (des) humanidade. É aquele continente distante onde, para além destas abundâncias, há uma ausência de tudo o resto – é como um resto enorme de mundo, com muito mais crianças do que uma Europa ou uma América, que se situa no “fim do mundo”. E ninguém quer ir ao “fim do mundo”! É muito longe e pode ser perigoso!
E não precisamos de seguir todos os mesmos caminhos. Mas, como ouvi ontem aqui em Pemba – “pela rua do depois chegas à praça do nunca” – e não podemos, no século XXI, permanecer na “rua do depois”, quando está em causa a sobrevivência (e nem sequer a vivência) de crianças que ainda morrem de “dor de barriga” ou “dor de cabeça”. E, é de repetir: estamos no século XXI!
África tem “aquele encanto”e “aquela alegria de viver”. África é cores fortes e praias oníricas, a ruralidade das paisagens verdes, laranjas e rochosas a perder de vista. África é “a gente pobre e feliz” de que fala a Directora do Infantário Provincial de Nampula, que a compara com “a gente abastada e triste” de “lá”. África é crianças “miseráveis” e também as mais sorridentes. É palhotas, é sol eterno onde a vida é mais efémera – e a vida já é tão efémera quando temos oitenta anos de esperança de vida! África é uma esperança inspiradora e uma espera sem fim, que nem no “desespero” desespera.
Joana Ferrari